15 dezembro 2005
Gravidez ectópica - Parte 2 de 3

Rever a situação tem sido um pouco mais difícil do que pensava mas só assim posso exorcizar os pensamentos que ainda me perseguem.

Retomo o relato no momento da ecografia. Depois do choque e das explicações do Dr. J. que basicamente se resumiam à inexistência de saco gestacional no útero, tive outras revelações: para além de parecer existir uma separação (septo) na parte superior do meu útero, também se visualizava uma pequena zona "hipoecogénica" junto ao ovário direito. Recordo-me levemente de se aventar a possibilidade de ter havido um aborto ou estarmos perante uma gravidez ectópica. Sai daquela sala com a sensação de que ainda não tinha acordado naquela manhã e que rapidamente iria sair daquele pesadelo. Fui imediatamente fazer análises e quando vi o resultado fiquei ainda mais nervosa. 4545 mUl/ml era um valor normal para o tempo de gestação. Apesar de me sentir bem fisicamente, sabia que não eram boas notícias e apressei-me a falar com o médico. Percebi logo pela sua expressão que o pior poderia estar a acontecer. Embora não houvesse forma de o comprovar o diagnóstico era o de uma possível gravidez ectópica e fui alertada para o que poderia acontecer com a indicação de lá voltar dois dias depois para iniciar as análises seriadas de Bhcg. Saí do hospital sozinha e aterrorizada. Decidimos que seria melhor procurar uma outra opinião e dirigi-me às Urgências da MAC. Depois de uma espera agonizante, fiz novas análises e ecografia (desta vez com assistência. Senti-me como uma cobaia de laboratório!). O diagnostico não o confirmaram. Dois dias depois voltei lá a pedido do médico e foram mais 4 horas de espera. Ainda sem queixas significativas mas já com umas moinhas que me incomodavam e que se tinham agravado durante o tempo que estive sentada à espera do médico, lá fui eu, por entre corredores frios e silenciosos, conduzida à zona das ecografias. Esperava-me um técnico (médico?) especialista em ecografias que, na tentativa de "ver" o que o Dr. J. descrevera no seu relatório, me massacrou ao ponto de me por a trepar pela maca acima e a pedir por favor para parar. Só me lembro de me caírem lágrimas pela cara abaixo e de não me conseguir por em pé depois de ter terminado. A partir daquele momento as dores agravaram-se e dois dias depois comecei a ter hemorragia. Telefonei de imediato ao Dr. J. que me aconselhou a ir à Urgência. Lá fiz nova análise que desta vez revelava um valor bastante menor: 817. Sem fazer nova ecografia, a médica de serviço informou-me que estaria a abortar e recomendou-me falar com o Dr. J. uns dias depois. Instantaneamente senti um grande alívio. Tudo se estaria a resolver. No dia combinado, ainda com hemorragia, fiz a nova ecografia e as notícias voltavam a não ser boas. A massa junto ao ovário direito mantinha-se e junto a ela tinha agora um coágulo (Hemoperitoneu com cerca de 180ml). Novo Bhcg: 408. Estava confirmada a gravidez ectópica e nesse dia teria de ficar internada para observação. Na família ainda ninguém sabia de nada e foi uma decisão muito dolorosa especialmente ter que contar à minha mãe. Nessa noite voltei a fazer nova eco e o coágulo havia aumentado pelo que "decidimos", nós e o Dr. J., efectuar a cirurgia. Logo na manhã seguinte entrava no bloco. O dr. J. confirmou a ruptura da trompa e procedeu à salpingectomia. Inevitavelmente, tinham-me amputado a vida e a alma. O pós-operatório correu bem e só posso agradecer a todo o pessoal do hospital pois tive tratamento 5***** apesar de tudo. Também o apoio da família e amigos mais chegados foi fundamental e é claro o amor do E. Sem ele não tinha conseguido ultrapassar a imensa dor que senti.

Próximo capítulo: a lenta recuperação

PS. Queria pedir 1000 desculpas à minha amiga Pi ;-)) pelo equivoco. Queria também informar as minhas amigas que o Sr. Período resolveu passar o fim-de-semana fora e ainda não deu as caras :0(
 
nota da criolinha às 17:35 |


8 Comments:


At 19/12/05 11:14 da manhã, Blogger Anna72 

Recordar é muito duro mas alivia um pouco a alma e aos poucos vai custando menos.

Beijocas grandes

At 19/12/05 11:35 da manhã, Blogger Mocas 

Querida Criolinha,

Acabei de ler e estou arrepiada com o suplício que passaste até te terem diagnosticado a ectópica. Apesar de saber bem que a dor física deixa traumas e dor da perda nunca se esquece, não deixes de olhar em frente. Faz como disseste, exorcisa esses pensamentos...muita coisa boa pode ainda vir a acontecer.

Beijinho enorme

mocas

At 19/12/05 12:43 da tarde, Blogger alma 

Não é nada fácil reviver esses momentos, bem sei...
mas qq dia vai aparecer uma estrelinha que te fará esquecer todo o sofrimento!
Beijos enormes
cate

At 19/12/05 2:15 da tarde, Blogger Susy 

Apenas p'ra te mandar um beijinho grande o doce p'ra curar o dóidói...
Susy

At 19/12/05 3:32 da tarde, Blogger Musa 

Amiga,
Não deve ter sido nada fácil. Espero que o facto de estares a passar esta experiência para o blog te ajude muito a ultrapassar essa dor e que muito em breve vejas o teu desejo tornado realidade...
Um beijinho muito grande e espero que venhas ter connosco no próximo encontro (foi fantástico!),
Musa

At 19/12/05 9:44 da tarde, Blogger kika 

ola!
só queria te agradecer por estares a escrever a tua experiencia .deve ser muito duro relembrar mas pensa que assim outras pessoas como eu ficam a saber mais umas coisas sobre a gravidez ectopica
bjs

At 20/12/05 9:40 da manhã, Blogger Carla Santos Alves 

Olá querida

Calculo que de facto não foi nada fácil tudo o k passaste!

Mas acho que o facto de estares a escrever te vai ajudando e exorcisar o que te vai na alma!

E com certeza que vais conseguir a tua estrelinha!

Bjs

Carla

At 21/12/05 10:40 da manhã, Anonymous Anónimo 

Olá Criolinha,

Não era necessário pedires desculpas, já te tinha dito. :)
É claro que estás desculpada.

A história que nos estás a contar é arrepiante, eu nunca tinha ouvido um "relato" tão pormenorizado de uma gravidez ectópica, a conclusão que tiro é que quem passa por uma situação destas passa certamente por um sofrimento muito grande.

Espero que o blog alivie a tua dor, estamos cá para isso - ajudar a aliviar uma dor que nunca se vai esquecer.

Beijinhos
Pi

P.S. O Mr. Red anda a portar-se muito mal!!!! :)